Care-scrolling: quando a preocupação com o outro se torna um vício nas redes sociais

O "care-scrolling" é um fenômeno crescente na era digital, impulsionado principalmente pelo uso excessivo das redes sociais. Ele descreve o ato de navegar compulsivamente por feeds de notícias e posts, buscando informações sobre crises, tragédias e injustiças sociais, muitas vezes com a intenção de se manter informado e demonstrar apoio às causas. Embora a empatia e o interesse por questões sociais sejam admiráveis, o care-scrolling pode se tornar problemático quando se transforma em um ciclo vicioso de consumo de conteúdo negativo, levando a impactos na saúde mental e bem-estar dos indivíduos.

Dados oficiais sobre o impacto do care-scrolling na saúde mental:

Embora não existam dados oficiais específicos sobre o care-scrolling, pesquisas sobre o uso excessivo de mídias sociais e a exposição a conteúdo negativo lançam luz sobre o problema.

Embora a OMS ainda não tenha classificado oficialmente o vício em mídias sociais como um transtorno, ela reconhece que o uso excessivo e problemático das plataformas digitais pode ter impactos significativos na saúde mental das pessoas.

OMS (Organização Mundial de Saúde)

A OMS destaca os seguintes pontos sobre o vício em mídias sociais:

  • Preocupação crescente: O uso excessivo de mídias sociais é uma preocupação crescente em todo o mundo, especialmente entre crianças e adolescentes.

  • Impacto na saúde mental: O vício em mídias sociais pode contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão, isolamento social, distúrbios do sono e problemas de autoestima.

  • Sintomas: Alguns dos sintomas do vício em mídias sociais incluem a necessidade de usar as plataformas constantemente, dificuldade em controlar o tempo de uso, negligência de outras atividades importantes, sintomas de abstinência quando não se está online e impacto negativo nos relacionamentos interpessoais.

  • Necessidade de mais pesquisas: A OMS enfatiza a necessidade de mais pesquisas para entender melhor o vício em mídias sociais e desenvolver estratégias eficazes de prevenção e tratamento.

Sociedade Real de Saúde Pública (RSPH) do Reino Unido

A Sociedade Real de Saúde Pública (RSPH) do Reino Unido conduziu um estudo em 2017 que revelou uma forte ligação entre o uso excessivo de mídias sociais e o aumento de problemas de saúde mental em jovens, incluindo:

  • Ansiedade: As plataformas de mídia social podem criar um ambiente de comparação constante e pressão para se apresentar uma imagem "perfeita", o que pode contribuir para a ansiedade.

  • Depressão: O cyberbullying, a sensação de inadequação e a falta de conexão genuína nas mídias sociais podem aumentar o risco de depressão.

  • Problemas de imagem corporal: A exposição constante a imagens idealizadas e filtros que distorcem a realidade contribuem para a insatisfação com o próprio corpo.

  • Cyberbullying: As mídias sociais facilitam o ataque direcionado, humilhação pública e propagação de mensagens de ódio, intensificando o problema do bullying.

O estudo da RSPH destaca a importância de usar as mídias sociais com moderação e consciência, buscando interações positivas e cultivando um senso crítico em relação ao conteúdo consumido. É crucial também que pais e educadores estejam atentos ao uso que os jovens fazem das redes sociais, promovendo um diálogo aberto sobre os riscos e incentivando hábitos saudáveis online.

Associação Americana de Psicologia (APA)

A Associação Americana de Psicologia (APA) tem alertado sobre os perigos da exposição excessiva a notícias negativas e conteúdo perturbador. O consumo constante desse tipo de informação pode gerar uma série de impactos negativos na saúde mental, incluindo:

  • Aumento do estresse: Notícias negativas ativam a resposta de "luta ou fuga" do corpo, liberando hormônios do estresse como cortisol. A exposição crônica a esse tipo de conteúdo mantém o corpo em estado de alerta constante, o que pode levar ao esgotamento físico e mental.

  • Sentimentos de medo e ansiedade: A cobertura midiática frequente de tragédias, violência e crises pode gerar um senso de medo e ansiedade generalizados, mesmo que a pessoa não esteja diretamente ameaçada.

  • Desesperança e pessimismo: A imersão em notícias negativas pode levar a uma visão distorcida da realidade, fazendo com que as pessoas acreditem que o mundo é um lugar perigoso e injusto, onde não há esperança de mudança.

  • Problemas de sono: A ansiedade e preocupação geradas pelo consumo de notícias negativas podem interferir no sono, levando à insônia e outros distúrbios.

  • Dificuldade de concentração: A mente agitada e preocupada tem dificuldade em se concentrar em outras tarefas, prejudicando o desempenho no trabalho, estudos e outras atividades.

A APA recomenda que as pessoas busquem um equilíbrio na sua dieta de informações, limitando o consumo de notícias negativas e buscando fontes confiáveis e imparciais. É importante também reservar tempo para atividades que promovam o bem-estar mental, como exercícios físicos, meditação, hobbies e contato com a natureza.

O lado obscuro do care-scrolling

Sobrecarga de informações

A exposição constante a notícias negativas e tragédias pode levar à sobrecarga de informações, gerando sentimentos de ansiedade, impotência e exaustão emocional.

Esse fenômeno é conhecido como "fadiga de compaixão" ou "esgotamento emocional". A exposição constante a notícias de tragédias, sofrimento e injustiças, especialmente em um mundo hiperconectado como o nosso, pode sobrecarregar nossa capacidade de processar emoções. Isso leva a uma série de consequências negativas, como:

  • Ansiedade e medo: A sensação constante de que o mundo é um lugar perigoso e imprevisível gera ansiedade e medo crônicos, mesmo sem uma ameaça real e iminente.

  • Impotência e desesperança: Acompanhar tragédias e injustiças sem poder agir diretamente para mudar a situação causa um sentimento de impotência e desesperança, levando à apatia e desmotivação.

  • Exaustão emocional: Processar as emoções intensas evocadas por notícias negativas exige muita energia mental e emocional. A exposição constante a esse tipo de conteúdo leva ao esgotamento, deixando a pessoa exausta, irritadiça e com dificuldade de concentração.

  • Insensibilidade e dessensibilização: A longo prazo, a sobrecarga emocional pode levar à insensibilidade e dessensibilização, diminuindo a capacidade de sentir empatia e compaixão pelo sofrimento alheio.

  • Isolamento social: A sensação de impotência e desesperança pode levar ao isolamento social, à medida que a pessoa se afasta de outras pessoas e atividades que antes lhe davam prazer.

É importante reconhecer os sinais de sobrecarga de informações e fadiga de compaixão para evitar que esses sentimentos se tornem crônicos e afetem a saúde mental a longo prazo. Algumas estratégias para lidar com essa situação incluem:

  • Limitar o consumo de notícias: Estabeleça limites para o tempo dedicado a acompanhar notícias, especialmente aquelas com conteúdo negativo.

  • Buscar fontes confiáveis: Priorize fontes de informação confiáveis e imparciais, evitando o sensacionalismo e a desinformação.

  • Cuidar da saúde mental: Pratique atividades que promovam o bem-estar mental, como exercícios físicos, meditação, yoga e contato com a natureza.

  • Conectar-se com pessoas queridas: Manter contato com amigos, familiares e pessoas que lhe fazem bem ajuda a fortalecer a resiliência emocional.

  • Buscar ajuda profissional: Se os sentimentos de ansiedade, impotência e exaustão emocional forem persistentes, procure ajuda de um profissional de saúde mental.

Vício em emoções negativas

O care-scrolling pode se tornar um ciclo vicioso, no qual a busca por informações negativas gera uma descarga de adrenalina e dopamina, levando à repetição do comportamento.

essa tendência de consumir compulsivamente notícias negativas, pode realmente se tornar um ciclo vicioso, impulsionado por mecanismos complexos que envolvem a adrenalina e a dopamina.

O ciclo vicioso do care-scrolling:

  1. Exposição a notícias negativas: Ao se deparar com notícias chocantes ou perturbadoras, o corpo reage liberando adrenalina, o hormônio do estresse, que aumenta o estado de alerta e excitação.

  2. Liberação de dopamina: A adrenalina desencadeia a liberação de dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa. Essa "recompensa química" reforça o comportamento de buscar informações negativas, mesmo que causem ansiedade e angústia.

  3. Repetição do comportamento: A sensação de alívio momentâneo após a descarga de dopamina, combinada com a curiosidade e o desejo de se manter informado, leva à repetição do comportamento de buscar notícias negativas, criando um ciclo vicioso.

  4. Reforço do ciclo: Quanto mais o ciclo se repete, mais o cérebro se "vicia" nesse padrão de comportamento, tornando cada vez mais difícil resistir ao impulso de consumir notícias negativas.

Consequências do ciclo vicioso:

  • Aumento da ansiedade e do estresse: A exposição constante a notícias negativas mantém o corpo em estado de alerta crônico, elevando os níveis de ansiedade e estresse.

  • Dificuldade de concentração: A mente agitada e preocupada tem dificuldade em se concentrar em outras tarefas, prejudicando o desempenho no trabalho, estudos e outras atividades.

  • Problemas de sono: A ansiedade e a excitação geradas pelo care-scrolling podem interferir no sono, levando à insônia e outros distúrbios.

  • Isolamento social: O excesso de tempo dedicado ao consumo de notícias online pode levar ao isolamento social e ao afastamento de atividades prazerosas.

  • Impacto na saúde mental: A longo prazo, o care-scrolling pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade generalizada e transtorno de estresse pós-traumático.

Sentimentos de culpa e inadequação

A incapacidade de resolver os problemas do mundo, mesmo após horas de "care-scrolling", pode gerar sentimentos de culpa e inadequação.

É verdade. O care-scrolling frequentemente cria uma ilusão de engajamento e ação, levando as pessoas a acreditarem que, ao se manterem informadas sobre as tragédias e problemas do mundo, estão de alguma forma contribuindo para a solução. No entanto, na maioria dos casos, essa sensação é ilusória.

A incapacidade de traduzir essa avalanche de informações em ações concretas, aliada à constante exposição ao sofrimento e injustiça, pode gerar uma série de emoções negativas, como:

  • Culpa: A pessoa pode se sentir culpada por não estar fazendo o suficiente para ajudar, mesmo sabendo que muitas vezes as situações estão além do seu controle individual.

  • Inadequação: Surge um sentimento de impotência e incapacidade diante da magnitude dos problemas mundiais, levando a pessoa a se sentir pequena e insignificante.

  • Ansiedade e frustração: A disparidade entre a vontade de ajudar e a incapacidade de gerar impacto real alimenta a ansiedade e a frustração.

  • Baixa autoestima: A sensação de não estar fazendo a diferença pode afetar a autoestima e a autoconfiança da pessoa.

É importante lembrar que a culpa e a inadequação são respostas naturais diante de situações complexas e desafiadoras. No entanto, quando esses sentimentos se tornam excessivos e paralisantes, podem ser prejudiciais à saúde mental.

Ativismo superficial

O care-scrolling pode levar a uma forma superficial de ativismo, na qual o indivíduo se sente engajado apenas por consumir e compartilhar informações, sem tomar ações concretas para promover mudanças.

Características do ativismo superficial:

  • Consumo passivo de informação: As pessoas se limitam a ler, assistir e compartilhar notícias e posts sobre os problemas sociais, sem se aprofundar nas causas, consequências e possíveis soluções.

  • Busca por validação social: O compartilhamento de conteúdo online sobre causas importantes serve como forma de mostrar aos outros o seu "engajamento" e buscar aprovação social.

  • Sensação ilusória de impacto: O ato de curtir, comentar e compartilhar posts cria uma sensação ilusória de que a pessoa está contribuindo ativamente para a causa, mesmo sem tomar ações concretas.

  • Falta de ação real: A participação se restringe ao mundo virtual, sem se traduzir em ações no mundo real, como doações, trabalho voluntário ou participação em protestos e campanhas.

Consequências do ativismo superficial:

  • Desmobilização social: A sensação de que já está "fazendo a sua parte" ao compartilhar informações online pode levar à desmobilização e à falta de engajamento em ações concretas que realmente promovam mudanças.

  • Banalização das causas: O excesso de informação e a falta de aprofundamento podem levar à banalização das causas sociais, diminuindo a sensibilidade e o senso de urgência em relação aos problemas.

  • Polarização e desinformação: O compartilhamento indiscriminado de informações, sem a devida checagem, pode contribuir para a propagação de notícias falsas e aumentar a polarização social.

  • Desilusão e frustração: A falta de resultados concretos, apesar do "esforço" online, pode gerar desilusão e frustração, levando ao desinteresse pelas causas sociais.

Impacto nos relacionamentos

O tempo excessivo dedicado ao care-scrolling pode prejudicar as relações interpessoais e o tempo dedicado a atividades prazerosas e relaxantes.

Isolamento social: Passar muito tempo online consumindo notícias negativas pode levar ao isolamento social, com a pessoa se afastando de amigos e familiares.

  • Dificuldade de conexão: A imersão no mundo virtual e nas preocupações com os problemas do mundo pode dificultar a conexão genuína com as pessoas ao redor, prejudicando a qualidade das interações sociais.

  • Irritabilidade e mau humor: A ansiedade e o estresse gerados pelo care-scrolling podem tornar a pessoa mais irritadiça e impaciente, afetando seus relacionamentos.

  • Falta de atenção: Durante as interações sociais, a pessoa pode estar distraída com as notícias e preocupações, demonstrando falta de atenção e interesse nas conversas e atividades com outras pessoas.

Impacto nas atividades prazerosas:

  • Redução do tempo livre: O tempo excessivo dedicado ao care-scrolling diminui o tempo disponível para atividades prazerosas e relaxantes, como hobbies, esportes, leitura e contato com a natureza.

  • Dificuldade de relaxamento: A mente agitada e preocupada com as notícias negativas tem dificuldade em se desligar e relaxar, mesmo durante o tempo livre.

  • Perda de interesse: A constante exposição a notícias negativas pode levar à perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas, gerando apatia e desmotivação.

Consequências:

  • Aumento do estresse e ansiedade: A falta de convívio social e de atividades prazerosas contribui para o aumento do estresse e da ansiedade, criando um ciclo vicioso que alimenta o care-scrolling.

  • Problemas de saúde mental: O isolamento social e a falta de lazer podem aumentar o risco de desenvolver problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

  • Diminuição da qualidade de vida: No geral, o tempo excessivo dedicado ao care-scrolling prejudica a qualidade de vida, afetando as relações interpessoais, o bem-estar físico e mental.

Como lidar com o care-scrolling

O primeiro passo para combater esse ciclo vicioso é reconhecer o problema. É preciso estar atento aos sinais de que o consumo de notícias está saindo do controle, como a sensação de angústia após navegar na internet, a dificuldade de se concentrar em outras atividades e o isolamento social. Uma vez identificados esses sinais, é fundamental estabelecer limites para o tempo dedicado às telas e priorizar o contato com o mundo real.

Outro aspecto importante é a curadoria da informação. Em vez de se deixar levar pela enxurrada de notícias negativas, é crucial buscar fontes confiáveis e imparciais, que apresentem os fatos de forma equilibrada e contextualizada. Além disso, é recomendável diversificar as fontes de informação, buscando conteúdos positivos e inspiradores que ajudem a contrabalancear o peso das notícias negativas.

Além da gestão da informação, é essencial cultivar hábitos que promovam o bem-estar mental e emocional. A prática regular de exercícios físicos, a meditação, o contato com a natureza e o cultivo de hobbies são ferramentas poderosas para combater o estresse e a ansiedade gerados pelo care-scrolling. Investir em relacionamentos interpessoais significativos e buscar apoio social também são fundamentais para fortalecer a resiliência emocional.

Por fim, é importante lembrar que o care-scrolling pode ser um sintoma de problemas mais profundos, como ansiedade generalizada ou depressão. Nesses casos, buscar ajuda profissional é fundamental para receber o suporte adequado e desenvolver estratégias personalizadas para lidar com a situação.

O care-scrolling representa um desafio significativo na era digital, mas não é insuperável. Ao reconhecer o problema, buscar informação de qualidade, cultivar hábitos saudáveis e buscar apoio quando necessário, podemos romper o ciclo vicioso da ansiedade digital e construir uma relação mais equilibrada e saudável com a tecnologia. Afinal, a informação deve ser uma ferramenta de empoderamento e conhecimento, e não uma fonte de angústia e paralisia.

Anterior
Anterior

A Evolução das Plataformas e a Arte de Contar Histórias na Era Digital

Próximo
Próximo

Inteligência de Marketing: O Pilar Estratégico para o Crescimento Sustentável das Empresas