Mas e se eu só quiser postar vídeos de gatinhos?
O cenário digital contemporâneo é marcado pela onipresença das redes sociais. Plataformas como Facebook, Instagram, Twitter e TikTok moldam a maneira como nos comunicamos, consumimos informação e interagimos com o mundo. Nesse contexto, surge o conceito de "social-first", uma abordagem que coloca as redes sociais no centro da estratégia de comunicação e marketing das marcas.
Social-first é mais do que simplesmente publicar conteúdo nas redes sociais. É um direcionamento intenso que prioriza a interação e o engajamento com o público, utilizando as plataformas sociais como principal canal de comunicação e relacionamento. Essa abordagem reconhece o poder das redes sociais na construção de comunidades, na geração de leads e na fidelização de clientes, mas também, devido a prioridade, acaba minando as outras formas de desenvolver os pontos de contato.
Dados e Estatísticas sobre as redes sociais:
Penetração Global: Segundo o relatório "Digital 2023" da We Are Social e Hootsuite, mais de 4,76 bilhões de pessoas utilizam as redes sociais, o que representa 59,4% da população mundial.
Tempo de Uso: Em média, as pessoas passam 2 horas e 29 minutos por dia nas redes sociais, de acordo com o relatório "Global State of Digital 2023" da DataReportal.
Influência na Decisão de Compra: Uma pesquisa da Nielsen revelou que 92% dos consumidores confiam em recomendações de amigos e familiares mais do que em qualquer outra forma de publicidade, e as redes sociais são o principal canal para essas interações.
Crescimento do E-commerce Social: A Statista prevê que as vendas globais no social commerce atinjam 2,9 trilhões de dólares até 2026, impulsionadas por recursos como live streams e lojas integradas às plataformas.
É inegável que ao priorizar a interação, o engajamento e a construção de comunidades, as empresas podem fortalecer sua presença digital, alcançar novos clientes e impulsionar seus negócios. Os dados e estatísticas comprovam a importância das redes sociais no cenário atual, consolidando a presença nas redes sociais como uma estratégia fundamental para as marcas que desejam prosperar na era digital.
Embora colocar as mídias sociais no centro da comunicacão apresente um panorama promissor para marcas que buscam conectar-se com seu público na era digital, essa estratégia também possui desafios e desvantagens que exigem atenção. A priorização das redes sociais como canal principal de comunicação pode expor as empresas a riscos e dificuldades que, se não forem gerenciados adequadamente, podem comprometer a reputação e o sucesso da marca.
Pontos que precisam de atenção quanto ao direcionamento para o "social-first”:
1. Dependência Excessiva das Plataformas:
Concentrar todos os esforços de comunicação em redes sociais de terceiros coloca as marcas em uma posição vulnerável. Mudanças nos algoritmos, políticas de uso e até mesmo a desativação de plataformas podem impactar significativamente o alcance e a visibilidade da marca, prejudicando a comunicação com o público e a efetividade das estratégias.
2. Dificuldade em Controlar a Narrativa:
As redes sociais são ambientes dinâmicos e imprevisíveis, onde o controle da narrativa sobre a marca é compartilhado com os usuários. Crises de imagem, comentários negativos e a disseminação de informações falsas podem surgir rapidamente e exigem uma gestão de crise eficiente para evitar danos à reputação.
3. Investimento Contínuo em Conteúdo:
Manter a relevância e o engajamento nas redes sociais demanda um fluxo constante de conteúdo original e de qualidade. A produção, curadoria e distribuição desse conteúdo exigem tempo, recursos e investimento, o que pode ser um desafio para empresas com equipes reduzidas ou orçamentos limitados.
4. Riscos de Segurança e Privacidade:
A crescente preocupação com a segurança e privacidade de dados exige atenção redobrada das marcas que utilizam as redes sociais como principal canal de comunicação. Vazamento de informações, ataques cibernéticos e o uso indevido de dados podem gerar consequências negativas para a empresa e seus clientes.
5. Métricas Superficiais e Engajamento Artificial:
As métricas de vaidade, como número de seguidores e curtidas, podem gerar uma falsa sensação de sucesso. É crucial analisar métricas mais profundas, como conversões e ROI, para avaliar o real impacto da estratégia nas redes sociais. Além disso, a compra de seguidores e o uso de bots para inflar o engajamento podem prejudicar a credibilidade da marca a longo prazo.
6. Perda do Foco em Outros Canais:
A priorização excessiva das redes sociais pode levar à negligência de outros canais de comunicação importantes, como o website, email marketing e o contato direto com o cliente. É fundamental manter uma estratégia multicanal equilibrada para alcançar diferentes públicos e garantir a efetividade da comunicação.
7. Cultura de Compartilhamento Excessivo:
O social-first pode incentivar uma cultura de compartilhamento excessivo de informações pessoais e profissionais, o que pode gerar problemas de privacidade e segurança. É importante estabelecer limites e diretrizes claras para o uso responsável das redes sociais.
Diantes dos pontos apresentados é importante que as empresas analisem cuidadosamente os riscos, implementando medidas de segurança e monitoramento constantemente das ações para garantir que a priorização das redes sociais não comprometa a reputação e o sucesso da marca. A diversificação de canais, a produção de conteúdo relevante, criativo e o foco em métricas significativas são essenciais para uma estratégia eficiente e sustentável.
Com tantos conteúdos similares e fórmulas prontas com a promessa de excelente performances nas redes socias, é possível observar que os conteúdos estão cada vez similares, ao ponto não ser possível identificar de imediato, de qual marca se trata o conteúdo.
Esse efeito é esperado diante da disseminação em massa de informações repetidas de “como a comunicação deve ser feita nas redes”, fazendo com que as marcas esqueçam do principal ativo na mensagem: a criatividade. A priorização da simplicidade e da agilidade inerentes as redes sociais não deve ocorrer em detrimento da qualidade e da profundidade do conteúdo.
Conteúdo superficial e repetitivo pode gerar resultados imediatos em termos de engajamento, mas sua capacidade de gerar valor a longo prazo é limitada. A construção de uma marca sólida e relevante exige um investimento em conteúdo que vá além do entretenimento superficial, que provoque reflexões, inspire e gere conhecimento.
A criatividade, nesse contexto, desempenha um papel fundamental. Conteúdo criativo é capaz de capturar a atenção do público em meio ao excesso de informação, gerar identificação e memorabilidade. A criatividade não se manifesta apenas em formatos inovadores e visuais atraentes, mas também na capacidade de apresentar ideias complexas de forma clara e concisa, utilizando recursos como storytelling, analogias e exemplos.
Investir em conteúdo profundo e criativo não significa abrir mão da simplicidade e da acessibilidade do social-first. Pelo contrário, a profundidade e a criatividade podem ser combinadas com uma linguagem objetiva e adaptada ao público-alvo. A utilização de recursos visuais, como imagens, vídeos e infográficos, também contribui para tornar o conteúdo mais atraente e fácil de compreender.
Além do Hype: A Busca por Profundidade e Criatividade na Comunicação de Marca
É preciso reconhecer as vulnerabilidades inerentes à dependência excessiva das redes sociais. Algoritmos voláteis, modismos passageiros e a superficialidade da cultura do like podem comprometer a longevidade da marca. A atenção do público é um recurso escasso e a busca desenfreada por engajamento imediato pode levar a um ciclo vicioso de conteúdo superficial e descartável.
É preciso ter como foco a capacidade de gerar conteúdo original, que provoque reflexões, emoções e conexões genuínas com o público. Atuar nesse conjunto é fundamental para transcender o ruído e construir uma identidade única. Criatividade não se resume a formatos inovadores ou recursos visuais chamativos, mas à capacidade de contar histórias relevantes, apresentar ideias complexas de forma clara e concisa e oferecer valor real ao público.
A profundidade, por sua vez, implica em ir além da superfície, explorando temas com substância e significado. Conteúdo profundo exige pesquisa, análise crítica e a coragem de desafiar convenções. É um convite ao diálogo, à reflexão e ao aprofundamento da relação entre marca e público.
Investir em conteúdo profundo e criativo é uma aposta no longo prazo. Requer paciência, persistência e a convicção de que a construção de uma marca autêntica e relevante exige tempo e dedicação. É um processo de cultivo da confiança, da admiração e da lealdade do público.
Marcas que se destacam no cenário atual compreendem a importância de equilibrar a leveza do social-first com a profundidade de um conteúdo bem elaborado. A Netflix, por exemplo, utiliza as redes sociais para promover suas produções com humor e interação, mas investe em documentários e séries que exploram temas complexos com profundidade e sensibilidade.
Outro exemplo é a Patagonia, marca de roupas outdoor que se posiciona como defensora do meio ambiente. A empresa utiliza suas plataformas sociais para conscientizar o público sobre questões ambientais e promover práticas sustentáveis, combinando conteúdo informativo com imagens inspiradoras e campanhas de impacto.
É preciso reconhecer que a construção de uma marca de sucesso exige perseverança e estratégia. As soluções rápidas e superficiais podem até gerar resultados momentâneos, mas carecem da solidez necessária para a consolidação a longo prazo.
O investimento em conteúdo de qualidade, que se destaque pela criatividade, profundidade e relevância, é fundamental para a criação de valor duradouro. É esse tipo de conteúdo que resistirá às flutuações do mercado e construirá uma base sólida para a marca.
A comunicação eficaz, portanto, assemelha-se a um farol que guia e inspira, orientando a jornada da marca em direção aos seus objetivos, superando os desafios e consolidando um legado de impacto.